Já com oito meses de experiência a conduzir na nossa esmerada capital, hoje aconteceu-me um episódio insólito, inédito nas minhas façanhas, que passo a relatar: ia na estrada de Benfica, na faixa da direita, olho para trás e vejo um taxista a fazer sinal de luzes. Pensei que ele estivesse a fazer sinal por estar na faixa da direita, que é reservada aos transportes públicos. Virei para a faixa da esquerda, já não tenho paciência para tar a suportar os buzinadores por trás e ainda muito menos os manda-luzes por trás, deixei-o passar à minha direita. O que foi intrigante foi, ao passar-me pela direita, ao reparar que eu tava a olhar para ele, tira o braço esquerda para fora da janela do carro e começa a acenar-me para cima e para baixo, na vertical. Não percebi a natureza do gesto: fiquei com ideia que ele estava tipo como se tivesse asas e quisesse, dando ideia que conduzia uma máquina digna de levantar voo, a fazer o mesmo gesto que as aves fazem de bater as asas quando vão em vôo. Limitei-me a deixar seguir o nosso taxista aviador (que se calhar era o que ele queria ser em gaiato no momento em que "fosse grande"), e dizer: "mais um louco de lisboa", como parafraseia o Rui Veloso na sua canção.
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