sexta-feira, dezembro 02, 2011

TENHO UM NOVO BLOG! QUEIRAM POR FAVOR IR A OACORDADO.WORDPRESS.COM !

quarta-feira, abril 27, 2011

The end !

Pois é, este é o meu último post neste blog. Termina aqui esta saga iniciada há sete anos, quando decidi inicar um blog que seria apenas "mais um" na face deste planeta, talvez o 1 321 434 645 545 434º blogueiro a aparecer. Mas este blog termina oficialmente hoje. A todos quanto o leram, muito obrigado pelo vosso interesse nas "proezas da minha vida", mas penso que, nas circunstâncias actuais, devido à reduzida frequência com que o actualizo, não vale a pena estar a preocupar em actualizá-lo. Não vou apagá-lo, mas já não vão saber novidades minhas por este intermédio. A partir de hoje, vou ser apenas um anónimo cujos acontecimentos de vida serão banais e não merecem que eu perca mais tempo a relatar o que foi. Uma vez mais, obrigado pelo vosso interesse e até à próxima, até "eu passar por aí", como diz o Rio Veloso ao encerrar os concertos dele.

segunda-feira, novembro 08, 2010

"Rede Social" Filme

NOTA: se ainda não viu o filme, por favor não continue aleitura, depois não venha para cima de mim com um comentário inflamado de que lhe fiz perder as suas expectativas acerca do filme. Aqui falo propositadamente da cena final do filme. SPOILERS ! SPOILERS ! SPOILERS ! SPOILERS ! (acho que chega!) Acho que simplesmente não consigo deixar o dia terminar sem ter de deixar aqui o meu comentário sobre o último filme que vi esta tarde, na sala 9 dos cinemas do Corte Inglez intitulado "A rede social" (do original inglês "The social network"). Tinha que ser este filme que me fez voltar a uma sala de cinema quase dez meses depois, depois de ter visto "Avatar". Já tinha ouvido falar dele por altos há uns meses, não pensava que a estreia fosse feita "tão cedo", mas quando li o comentário do Nuno Markl no Facebok que estava super-ansioso de o assistir, admirei-me imenso. Mas não importa, já tinha colocado no meu programa que tinha de ir ver o filme num prazo breve e assim o fiz esta tarde. Tenho de confessar que, momentos antes de ver o filme, começo a perspectivar como irá decorrer... e quanto este, esperava muita intriga, e muitas cenas com conversa entre "maluquinhos dos computadores" que muito bom público não iria perceber... bem, quanto a intriga houve e as cenas a ver com as matérias e os temas da minha profissão afinal não foram tantas por aí assim... mas o filme era muito denso em termos de quantidade de informação a ser disparada por unidade de tempo, mesmo tendo em conta os tempos de hoje em que convivemos com tremendas quantidades de informação a serem bombardeadas nos nossos cérebros em pouco espaço de tempo... de forma que, mesmo perdendo alguns pormenores por aqui ou por ali... consegui acompanhar o filme do princípio ao fim quase sem dar o tempo por passado... o que tendo em conta que o filme durou 115 minutos, foi muito bom... Para mais penso que o uma das principais razões pelo facto de ter gostado do filme era ser realizado por um dos meus três realizadores de referência (ele pertence ao leque dos três "David's": David Lynch, David Cronenberg e David Fincher - cada um com o seu estilo mais particular que o outro, mas o Fincher é de todos o menos heterodoxo) - a densidade do filme fez-me lembrar muito o último filme dele "Zodíaco" e aquele tema musical dos Beatles a servir de epítome no final veio bem ao estilo do "Clube de Combate", outro dos filmes de eleição deste realizador. Por outro lado, Fincher consegue manter-nos o interesse na matéria narrativa do princípio ao fim, por mais "esquisita" que ela possa ser (o "jargão" dos infogeeks) - provavelmente fruto da sua experiência como realizador publicitário, ao conseguir tornar interessante qualquer matéria que não nos desperte o mínimo interesse inicial. E interessante também a abordagem de Fincher ao colocar o fio principal da história entrecortado com as cenas futuras que se passam nos depoimento para os processos judiciais que os "amigos" de Mark Zuckerberg lhe vão interpondo - isso assim evita a redundância de se repetir em "flashback" as cenas iniciais do filme que interessam como "prova" para as alegações referidas nos tais depoimentos. Mas, mais uma vez, o filme merece ser visto não só por ser realizado por Fincher, mas também para percebermos a história por detrás de ser possível como é que um "miúdo" de 26 anos é neste momento o multimilionário mais jovem do planeta. Em suma: 5 estrelas, e, por mim, merece figurar na lista de 5 nomeados a melhor filme. Um último parágrafo a acrescentar: a ex-namorada de Mark, Erica Albright, afinal não é personagem ficcional: existe mesmo na realidade e ela refere no site pessoal, entre outras coisas interessantes, que Mark, mesmo depois de já ter um perfil no Facebook, nunca lhe enviou nenhum pedido de amizade pessoal no Facebook.
Site pessoal de Erica: http://ericaalbright.com/
Conta pessoal de Erica no Facebook: http://www.facebook.com/#!/profile.php?id=100001661371340
Presença de Mark no Facebook: http://www.facebook.com/markzuckerberg

quarta-feira, outubro 06, 2010

Já tenho companhia em casa...

... a partir de hoje, já não estou mais sozinho no meu T0. Acontece que neste momento outro ser vivo partilha esta agora comigo. Que ser vivo será esse !? Não, não é um cão, porque iria fazer muito barulho e largaria bastante pêlo, para além do facto de não suportar ficar sozinho. E não, também não é um gato, se bem que poderia suportar melhor a solidão que um cão, mesmo assim iria sujar a casa, e é preciso ver que a casa não é na realidade minha, é arrendada. E, não, também não é uma ave, se bem, que já não se importasse de ficar sozinha, e ainda me poderia animar cantar todas as manhãs, iria exigir que lhe desse de comer e limpasse a gaiola. E, uma vez mais também não é um peixe de aquário, porque eu não tenho qualquer experiências em tomar conta de semelhantes animais nem das artes de manter um aquário. Excluindo todas estas hipóteses, ainda não se deram conta do que possa ser este ser vivo !? Pois muito, é um pequeno vaso de hortelã, aquela erva aromática que se costuma como tempero em sopas e também é boa como infusão. Acontece que de vez em quando faço canja e gosto de um travo de hortelã no caldo da canja, e como a hortelã que compro nas mercearias é sempre em grandes quantidades e só dura uma semana, decidi cuidar de manter um vaso com hortelã, de forma que agora tenho hortelã sempre que precisar: para pôr na comida e para fazer chá. E, para além do mais, tenho de ter cuidado em lhe dar o "amor" que ela precisa: água e sol todas as semanas. E, mesmo assim é um ser vivo de que preciso de tomar conta. Não canta, não preciso de lhe fazer festa, nem ronrona, mas mesmo assim, o que interessa é que já não estou sózinho mais em minha casa !

domingo, setembro 19, 2010

Hattrick - crónica de um viciado

Nunca gostei nem nunca tive muito jeito para matraquilhos, tenho que confessar, mas isso não me impediu de participar nesse simulador de gestão de uma equipa de futebol chamado Hattrick ! Podem-lhe chamar o "CM" on-line e foi-me apresentado por um amigo meu, nos termos "Eh pah, não queres experimentar num jogo on-line em que tu fazes de conta que és o manager de uma equipa de futebol. Podes criar uma equipa, comprar e vender jogadores, participas num campeonato e podes ser promovido. Tem lá tudo quase como se tu gerisses uma equipa de futebol a sério. A princípio acho que não fiquei muito entusiasmado com a ideia, mas mesmo assim quis experimentar, ora deixa-ver, essa cena chama-se hattrick, certo !? Deixa cá ver: hattrick no Google deu-me como primeiro resultado www.hattrick.org . "Todos merecem ter a sua equipa de futebol". Ganda cena. Eu quero a minha já, servida com equipamento azul e verde, à lá Sporting, e num campo de futebol com o nome do meu bisavô, que contribuiu para fazer crescer a minha terra: Sebastião Viana. E assim nasceu o Sporting Clube Cabaneiro, pequeno clube inicialmente apenas com 500 sócios, a maioria pescadores, mas mariotariamente constituída por jovens, e que, como forma de homenagem ao meu bisavô, o homem que inventou essa grande nova técnica de pesca ao polvo conhecia como Teia, o estádio começou por chamar-se Campo de Jogos Sebastião Viana, com 11000 lugares, a maior parte de pé. O que é que havia de se esperar de um clube que começa na X Divisão (no Hattrick não há regionais!). Devo dizer que depois de ter feito nascer no ciberespaço o Cabaneiro, acho que só voltei a entrar no meu escritório virtual de manager do Cabaneiro cerca de uma semana depois: eu era um programador muito ocupado a tratar de melhorar as estruturas informáticas da Segurança Social e por isso deixei aquilo só para quando me lembrava - praí uma vez por semana, não mais do que isso. Eu ainda não podia, na altura ainda mexer fazer alinhar onzes titulares - ainda tinha de completar a licença de manager antes de poder fazer isso. O que é certo é que a licença chegou muito atrasada - levou ao todo dois meses para tirar, pois quando chegou já a época tinha terminado e a minha equipa conclui a sua série da X divisão num modesto quinto lugar. Não sei o que fiz, mas os deuses do Hattrick decidiram dar das suas graças e na época fui automaticamente promovido à IX, e agora, finalmente, com a possibilidade de mexer no plantel, comprar e vender jogadores. Tah, tah, tah ! Tinha agora, e finalmente uma equipa inteirinha sob o poder dos meus dedos no teclado. E podia comprar e vender jogadores txarramm !!! Além de certos conceitos que para mim é como a conversa da rua para um gajo como eu que já é treinador de bancada há mais de 20 anos como criatividade, ala, lateral, dei de cara com conceitos como TSI, que tenta dar um valor numérico do nível de um jogador. E o que é certo é que vi que tinha jogadores bons: tinha para lá um Pedro David Monteiro, com TSI de 4000 e tal e um Raul Vieira, com TSI de 2000 e tal ! ExtRRRRaordinário, pensei eu ! Já tenho dois carregadores de piano, vão ser os meus médios criativos, pensei eu. E assim foi, e o resto é história: conclui a série nos dois primeiros lugares que davam acesso à subida para a VIII divisão. Só não terminei em primeiro porque perdi um jogo inesperadamente. E comecei a gostar tanto daquilo que me tornei sócio do Hattrick, a pagar: dei 10 aéreos aos deuses do Hattrick e eles deixaram-me ver as caras dos meus queridos jogadores. Não morri de amores por eles, claro, porque sou, apesar de tudo, heterossexual, mas fiquei agradado com o que vi: pelo menos não havia lá nenhum jogador com penteado à Abel Xavier (enganei-me, ele agora passou a ser mouro, como é que se chama, ah, é verdade, Faiçal). Fora este àparte, achei que eles tinham cara para poderem disputar o desafio seguinte: aguentarem-se na VIII divisão. Por isso, comecei com pézinhos de lã a disputa pela sobrevivência na VIII divisão, porque agora já não havia bonomias, estava a disputar uma série com outros managers adversários humanos (no hattrick, existem equipas controladas por "bots", isto é, que são controladas por software, fazem a vez daquilo que se chama "jogar contra a máquina"). Venci o primeiro jogo por 3-0, e quando dei por mim ao fim de 7 jornadas, a primeira volta (o campeonato todo tem 14 jogos) já era líder incontestado da série, invicto só com vitórias e 21 pontos. Decidi então abrir mais os cordões à bolsa e largar 30 aéreos para os deuses do Hattrick e mandei-lhes um postal de felicitações. Assim tinha direito a ver as caras dos meus queridos jogadores por mais um ano (ou 4 épocas, ah é verdade: esqueci-me de dizer, no mundo do Hattrick, um ano dos nossos corresponde a 4 deles, de forma que um jogador cumpre 4 anos num ano dos nossos). O que é certo é que não consegui ganhar a série com o recorde absoluto só com vitórias em todos os 14 jogos, porque tive o azar, uma vez mais, de perder o jogo logo contra a mesma equipa que vencei na abertura do campeonato. Equipa essa que me moveu uma perseguição só dó nem piedade e consegui passar-me à frente no photo-finish, vencendo-me em cima da meta, porque apesar de ter os mesmos pontos, tinha melhor diferença de golos, e daí venceu a série, e passou automaticamente. E eu fiquei à espera da repescagem, e de ser promovido à VII divisão por ter sido um dos melhores segundos classificados. E é neste ponto que me encontro, a disputar a VII divisão. Ao fim de cinco jornadas, apenas uma vitória e quatro derrotas: maravilha, sabem onde estou, adivinharam, não era difícil também sou o lanterna vermelha ! Acho que não vale a pena lançar-me em rezas para os deuses do Hattrick, para que me ajudem e façam-me lá uma perninha para não descer de divisão. Mas inevitavelmente, e apesar de ainda faltarem nove jogos e muita coisa poder acontecer: acho que não me resta outra hipótese ! Os adeptos da minha equipa virtual já puseram vendas nos olhos, pois não querem ver o que se vai passar a seguir... a queda no abismo da VIII. Mas paciência, é preciso ver que quando é sempre a subir, mais tarde ou mais cedo vemos que fomos alto demais e lá temos que descer de novo até encontrar uma altitude mais adequada para as nossas capacidades. E neste momento, o que tenho de dizer é que se descer não vou desistir por causa. Vou é começar a vender os melhores jogadores e apostar nos jovens e a juntar guito, para na próxima época, uma vez na VIII divisão, ter finalmente uma equipa digna da VII divisão, pois aí hei-de vencer todos os jogos sem mácula - e depois irei poder manter-me na VII ! Ter uma distraçãozinha destas, pelo menos uns 10 minutozinhos por semana, para não dizer por dia, vale sempre a pena ! No fim disto tudo, convido-vos a darem uma volta pelas instalações do meu clube, o Sporting Clube Cabaneiro, não vão é poder ver as caras dos jogadores, porque eles estão irritados e puseram máscaras cinzentas por cima dos rostos, porque não serem identificados como pertencendo ao clube que é lanterna vermelha desta série da VII divisão do Hattrick Português. Ora cliquem aqui para darem uma vistinha: Sporting Clube Cabaneiro ! E olhem que faço bem melhor figura que na Liga dos Últimos !

quarta-feira, agosto 18, 2010

Um dia que não foi rotineiro

Lisboa costuma ser uma cidade bastante calma neste mês de Agosto, em que todo o seu trânsito desaperta bastante daquela confusão costumeira em todos os restantes meses do Ano, uma vez que nesta altura a maior parte dos habitantes da capital encontram-se a calcorrear as estradas do litoral algarvio. Apesar de tudo, tem sido neste mês que tenho percorrido as estradas da capital, uma vez que não tenho férias este mês. Este teria sido mais um dia corriqueiro como outro qualquer na capital, se não fosse por dois acontecimentos: primeiro, ao atravessar Monsanto, depois de passar por cima da A5 e virar na rotunda do lado norte na direcção para Benfica, deparo-me com um esquilo em agonia na berma da estrada. Coitado do bicho, estava no estertor da morte, pois devia ter levado uma pranchada de outro automóvel há menos de cinco minutos, da qual não saiu ileso, muito pelo contrário, custou-lhe a vida. Para mim ver um esquilo ainda é uma coisa do outro mundo, tipo ver um unicórnio, porque no Algarve de onde sou natural não há esquilos. Por isso fiquei muito transtornado, quando vi bichinho tão engraçado a morrer ao lado da estrada. E eu fiquei com ideia que já tinha deparado com o mesmo esquilo outro dia, porque de manhã, quase no mesmo local, um esquilo, por sinal o mesmo, ia-me pregando um valente susto quando vi uma coisa com orelhas e rabo comprido peludo aos saltos para dentro da estrada. Mas, pelos vistos, e infelizmente, desta vez não teve a mesma sorte de outro dia. Infelizmente, para o nosso amigo esquilo, que neste momento já deve estar aos saltos algures numa árvore dos jardins do Éden. Mas falta o segundo acontecimento, do qual já me ia esquecendo de relatar aqui: já depois de sair de Monsanto, e depois de passar pela igreja de São Domingos de Benfica, a estrada que desce de Monsanto vai-se juntar à estrada de Benfica depois de passar por baixo em viaduto por baixo da linha de comboio. Nesse local, para quem vai em direcção à estrada de Benfica, a estrada em vez de duas faixas passa a ter apenas uma. Pois, nesse mesmo local, um fulano num automóvel branco comercial, ultrapassa-me perigosamente antes de se fazer à curva para depois subir em direcção à estrada de Benfica. Claro que não estava à espera era com o que me deparei de seguida, o fulano devia ir apressado por este ou aquilo motivo, e desaparece imediatamente na curva. Mas qual não é o meu espanto quando vejo o mesmo fulano, já depois da curva, lá em cima, já a sair do viaduto, parado sem mais nem menos em frente a um sinal verde, não sei à espera do quê. Quer dizer, o senhor fulano estava com tanta pressa que primeiro me faz uma ultrapassagem perigosa, mas depois está parado sem mais nem menos, à espera que chova, num local onde menos se espera. Claro que eu achei que deveria ser merecedor de uma buzinadela, e presentei-o com o devido som. Não tava era é à espera de ser presenteado imediatamente com um braço peludo a estender-se para fora do vidro lateral esquerdo e a mostrar o viril dedo do meio na posição desejada. Mas, obviamente, e depois de se dar por satisfeito, o proprietário do dito braço voltou a recolher-se para dentro do seu automóvel... Enfim, e passou-me pela mente, antes de acontecer os ditos factos, a preocupação de não actualizar este blog já há algum tempo e, de um momento para o outro, como que querendo atender às minhas preces, o Destino decidiu (e infelizmente para o esquilo, que foi desta para melhor) presentear-me com dois acontecimentos merecedores de passarem à posteridade neste local!

sexta-feira, julho 02, 2010

O maltrapilho que sabia ler

Estou entre o pessoal que agora desatou a reler Saramago só porque o homem morreu. Mas não comprei nenhum livro dele, aproveitei um dos que já tinha lá para casa e que os meus pais adquiriram. Optei por aquele que marca o início da carreira a sério de Saramago, Levantado do Chão, onde fala da vida dos trabalhadores rurais da aldeia alentejana de Lavre na primeira metade deste século. Recuperei o hábito de ir de autocarro, porque voltei a trabalhar no centro de Lisboa, o que me permite ir desfrutando da leitura enquanto não atinjo o meu destino. Lembro-me de estar algures entre o Casal Ventoso e Campolide, enquanto estava a ler este parágrafo de Saramago:
O povo fez-se para viver sujo e esfomeado. Um povo que se lava é um povo que não trabalha, talvez nas cidades, (...) É preciso que este bicho da terra seja bicho mesmo, que de manhã some a remela da noite à remela das noites, que o sujo das mãos, da cara, dos sovacos, das virilhas, dos pés, do buraco do corpo, seja o halo glorioso do trabalho do latifúndio.
Devo ter desviado a atenção por uns breves instantes para o vidro da janela, mas foi o suficiente para me deparar com uma imagem improvável: um maltrapilho, todo sujo, barbudo e cabeludo, a folhear um daqueles jornais de distribuição gratuita. Uma vez que o autocarro em que eu seguia ia a passar rapidamente, não deu para atentar mais, mas pareceu-me que o vagabundo estava a ler o jornal.
Sinal dos tempos, pensei eu, ao contrário, se bem que o ambiente narrativo descrito por Saramago seja no campo e não na cidade, e o nosso maltrapilho, para não dizer sem-abrigo, não trabalhe nem se esforce como as gentes do campo há cem anos, e portanto a sua sujidade seja fingida e imerecida, ao contrário de João Mau-Tempo, personagem do conto de Saramago, não deixa, no entanto, de mostrar o contraste com outros tempos: actualmente toda a gente sabe ler, mesmo um maltrapilho sabe, e toda a gente tem acesso à informação, tal como o nosso maltrapilho no meio da rua. E não é preciso muito esforço para o conseguir, se bem que na cidade exista muito mais possibilidade de um fulano saber mais coisas que no campo. Nada disto estava disponível a João Mau-Tempo, mesmo que tivesse sido pessoa de carne e osso em vez de viver numa folha de papel, há cem anos, em Monte Lavre.
E, por favor, não me venham comentar que a minha visão deste maltrapilho alfacinha é ingénua, porque o que ele se calhar estava mas é deliciar-se com as loiras do Destak do que a ver os preços das casas em Lisboa ou a ver um anúncio de emprego, ou a procurar a barbearia (ou melhor, cabeleireiro de homens, uma vez que os barbeiros já se extinguiram, pelo menos de nome, visto que hoje em dia toda a gente faz a barba em casa) barata mais próxima... muitas possibilidades se colocam ! Mas o que interessa é que pelo menos ele estava a folhear o jornal !