sábado, março 27, 2010

A primavra, celebração ou trabalho ?

Só num destes fins-de-semana ao Algarve é que tenho oportunidade de atravessar zonas onde ainda se encontra um pouco de Natureza, fora da grande cidade de Lisboa sempre cheia de gente stressada a trabalhar, é que tive finalmente a oportunidade de ver a primavera em todo o seu esplendor. Em Lisboa não costumo ver andorinhas, cegonhas, campos floridos a perder de vista com o dealbar das cores, toda a vida a entrar em celebração perante a assunção do Sol como a sua época do ano eleita para iniciar a renovação de um novo ciclo. Parece realmente uma festa, campos floridos, o cantar dos pássaros, o céu de um azul cintilante, tudo convida a uma celebração. Por todo o lado parece haver alegria, e toda a vida parece ter entrado em celebração. Mas quando vemos as coisas mais atenção, vemos que esta visão das coisas é ingénua e mormente infantil. Na realidade, as aves cantam não para celebrarem o que quer que seja, mas para iniciar o acasalamento de forma a assegurar descendência, porque, senão fôr assim, não há novos indivíduos para garantir a sobrevivência da espécie. As plantas não deitam flor para nosso deleite, mas sim para assegurar que os insectos as polinizam, de modo a produzir semente. Nada está feito como dando impressão que se trata de uma celebração, toda a Vida (ou Natureza, se assim lhe preferirem chamar) está em constante azáfama a trabalhar para garantir que existe uma continuidade. Não é festa, não, é simplesmente, a Vida ter que garantir, a todo o custo, que este fenómeno maravilhoso chamado Vida e que existe praticamente desde a criação do planeta se mantém aqui pelo menos enquanto o planeta existir. É um trabalho sem fim, se ele não parar, toda a Vida terminaria num ápice.
O que parece ser uma alegria pelo início da Primavera, é, na realidade, nada mais que o início de uma longa jornada com grande custo e sacrifício para garantir que tenhamos descendentes.