Gilberto Gil e Caetano Veloso a cantarem um grande tema musical conhecido das crianças brasileiras dos anos 70 (e portugal dos anos 80).
Para os anos 90 o grande tema musical das crianças portuguesas foi "O DragonBall Z". E desta última década o "Nodi".
A minha casa em Cabanas, que é uma vivenda com vista para o mar, deve ser ainda das poucas casas, na minha zona, que ainda dispõe de um quintal amplo nas traseiras. Passei muitas horas da minha meninice nesse quintal, se fosse contabilizar todo o tempo que perdi nele talvez acho que perdi metade de toda a minha infância nesse quintal. Actualmente e quando regresso ao quintal da minha meninice, é com grande pena que vejo um lugar completamente coberto por essas plantas malvadas chamadas ortigas. Foi neste sítio que tanta coisa boa e má se passou na minha vida, onde passava tardes infindáveis na companhia do meu avô paterno a falar de animais que ele adorava criar, como galinhas, patos e coelhos, entre outros. Foi também o lugar de brincadeiras com os meus irmãos e espaço para explorarmos todo aquele tempo maravilhosos das nossas vidas. É por isso que ainda me custa viver em apartamento, como hoje vive. Talvez o gosto pela liberdade e pelo contacto com a natureza terá nascido naquele pequeno palmo de terreno com pouco mais de 1000 metros quadrados.
Infelizmente o meu avô paterno já partiu vai lá onze anos e dele ficou-me a saudade desses tempos que nunca mais regressarão. Pois é, aprendi a criar galinhas, coelhos e patos, um dia, quem sabe, esta civilização alimentada por combustíveis fósseis conhece a sua ruína e teremos todos de voltar para o campo. Eu ao menos já sei criar galinhas. Não precisar de jogar ao Farmville para conseguir isso... !Muitas histórias tenho eu aqui para contar a respeito do meu quintal. Lá ainda subsiste, desde a minha meninice, ainda, um tanque daqueles de cimento para lavar a roupa e um cacto que, quando eu era pequenino tinha só dois metro e meio de altura e que agora deve ter praí uns dez metros, tendo em conta que entretanto ramificou-se imenso. Mas o que me entristece mais é ver o sítio completamente coberto por urtigas de quase metro e meio de altura. É como se as urtigas tivessem sido lá postas de propósito para apagar as minhas memórias de criança!
Ainda me lembro do nome que lhe dei... "quintal dos 44 animais!", porque um dia decidi contar toda a bicharada que lá tinha e cheguei a conta de quarenta e quatro ! Continuou sempre a chamar-se o "quintal dos 44 animais", mesmo quando mais tarde podia ter mais ou menos animais que este valor exacto. Digamos que era o meu "sítio do picapau amarelo"!
Só num destes fins-de-semana ao Algarve é que tenho oportunidade de atravessar zonas onde ainda se encontra um pouco de Natureza, fora da grande cidade de Lisboa sempre cheia de gente stressada a trabalhar, é que tive finalmente a oportunidade de ver a primavera em todo o seu esplendor. Em Lisboa não costumo ver andorinhas, cegonhas, campos floridos a perder de vista com o dealbar das cores, toda a vida a entrar em celebração perante a assunção do Sol como a sua época do ano eleita para iniciar a renovação de um novo ciclo. Parece realmente uma festa, campos floridos, o cantar dos pássaros, o céu de um azul cintilante, tudo convida a uma celebração. Por todo o lado parece haver alegria, e toda a vida parece ter entrado em celebração. Mas quando vemos as coisas mais atenção, vemos que esta visão das coisas é ingénua e mormente infantil. Na realidade, as aves cantam não para celebrarem o que quer que seja, mas para iniciar o acasalamento de forma a assegurar descendência, porque, senão fôr assim, não há novos indivíduos para garantir a sobrevivência da espécie. As plantas não deitam flor para nosso deleite, mas sim para assegurar que os insectos as polinizam, de modo a produzir semente. Nada está feito como dando impressão que se trata de uma celebração, toda a Vida (ou Natureza, se assim lhe preferirem chamar) está em constante azáfama a trabalhar para garantir que existe uma continuidade. Não é festa, não, é simplesmente, a Vida ter que garantir, a todo o custo, que este fenómeno maravilhoso chamado Vida e que existe praticamente desde a criação do planeta se mantém aqui pelo menos enquanto o planeta existir. É um trabalho sem fim, se ele não parar, toda a Vida terminaria num ápice.
O que parece ser uma alegria pelo início da Primavera, é, na realidade, nada mais que o início de uma longa jornada com grande custo e sacrifício para garantir que tenhamos descendentes.
É a minha conclusão final depois da experiência que tive hoje no supermercado Pão de Açúcar das Amoreiras, como voluntário para fazer uma recolha alimentar para a casa de amparo de Santo António . Vesti o papel que para algumas pessoas é dos "chatos" que estão à entrada dos supermercados a pedir para fazerem "compras" que depois revertem para a instituição de caridade. Vesti o papel de "chato" e não fiquei nada aborrecido com isso. Estar do outro lado foi muito bom. Ser capaz de reagir à altura da reacção individual de cada um. Mesmo aos que dizem "nim" ou nem sequer esboçam uma única reacção eu dizia sempre o mesmo "Boa Noite, Obrigado", à espera que depois esta resposta negativa fosse compensada pelo gesto afirmativo de outra pessoa, essa sim, já disposta a dar a sua contribuição. Quando cheguei, já tinha a ideia que ia ter que tar a "chatear" todas as pessoas que iam entrando pela porta do Supermercado e a repetir sempre a mesma lengalenga "Quer contribuir para uma recolha alimentar a favor da Casa de Santo António, que apoia mães adolescentes e suas crianças ?". Acho que 2/3 das pessoas que abordei aceitaram, sendo que 1/3 ignorou o meu apelo. É natural, fiquei com vontade de repetir... senti-me útil fora do trabalho, ainda por cima numa altura em que estou numa fase de transição entre dois empregos, acabei um e estou em vias de começar outro, e nesta fase transitória de "férias" entre estes dois empregos, foi bom, mas muito bom, estar a fazer algo extremamente gratificante em prol de uma instituição de caridade.
Por outro lado, fiquei a conhecer outra faceta minha, que já não me preocupo em levar uma resposta negativa dos outros. Não quer, não quer, acabou. Passa-se ao próximo, que já pode querer.
E só tenho a agradecer ao Banco de Voluntariado de Lisboa pela oportunidade que me concederam!
Depois de amanhã. no sábado, vou estar a colaborar na limpeza dos espaços públicos da minha terra natal, Cabanas de Tavira, no âmbito do projecto Limpar Portugal !
Isto foi bom, mas mesmo muito bom, para quebrar a rotina, e um gajo sempre fica a conhecer novas pessoas !
Hoje é dia 19 de Março, e eu sei que todos os anos este dia é dedicado especialmente a lembrarmo-nos do nosso pai. Mas acontece que eu já não tenho pai. Ele partiu de repente e sem dizer para onde ia já lá vão sete anos. E no sítio onde estiver, onde quer quer seja, eu não posso lá chegar, para oferecer o que eu teria para te oferecer !