sábado, julho 23, 2005

" A Queda"

Foi este filme único que fui ver ontem nos claustros do antigo Convento do Carmo, integrada na 6ª mostra de Cinema Europeu de Tavira, organizado pelo Cineclube de Tavira. Este filme é único porque é a primeira vez que vemos um filme sobre a Segunda Grande Guerra contado do lado de uma das nações que a perdeu, a Alemanha. O filme é contado do ponto de vista da jovem secretária pessoal do führer, Traudl Junge , que o via como uma figura paternal, sendo bocado produzido de acordo com essa perspectiva, podendo parecer a alguns espectadores uma tentativa de desculpabilizar o maior responsável pela maior máquina de ceifar vidas da história. Mas não se trata disso, a figura interpretada por Bruno Ganz acaba por confirmar em grande medida a ideia de um homem pérfido, uma figura que não respeitava as diferenças e que se orgulhava de supostamente ter conseguido eliminar todos os judeus da Europa e algumas coisas mais que são de sobremaneira do conhecimento de toda a gente. A forma como queria deixar morrer o povo alemão pela forma como supostamente se tinha deixado perder na guerra, e por esse motivo não pretender merecer permanecer a existir, consubstanciando dessa maneira qualquer esforço por parte dos seus colaboradores mais imediatos como Himmler, que pediam para fazer a paz com os aliados, de forma a evitar o maior sofrimento por parte dos alemães. O filme é consistente e muito objectivo em relação a todos os factos que se passaram. Não existe em nenhum ponto, por aquilo que me é dado ver, que se possa ter feito ficção. Isto é um filme que só podia ter sido realizado pelos alemães, porque se o fosse por parte de outra proveniência, nunca seria real, por parte de um povo que um guarda na sua consciência colectiva todos os males perpretados durante 12 anos de nazismo no poder e 6 de guerra. Este filme acaba por ser se calhar um bocado o descarregar desse sentimento de culpa que os alemães guardaram durante mais de sessenta anos, e que lhes ainda está atravessado na garganta.