Já com oito meses de experiência a conduzir na nossa esmerada capital, hoje aconteceu-me um episódio insólito, inédito nas minhas façanhas, que passo a relatar: ia na estrada de Benfica, na faixa da direita, olho para trás e vejo um taxista a fazer sinal de luzes. Pensei que ele estivesse a fazer sinal por estar na faixa da direita, que é reservada aos transportes públicos. Virei para a faixa da esquerda, já não tenho paciência para tar a suportar os buzinadores por trás e ainda muito menos os manda-luzes por trás, deixei-o passar à minha direita. O que foi intrigante foi, ao passar-me pela direita, ao reparar que eu tava a olhar para ele, tira o braço esquerda para fora da janela do carro e começa a acenar-me para cima e para baixo, na vertical. Não percebi a natureza do gesto: fiquei com ideia que ele estava tipo como se tivesse asas e quisesse, dando ideia que conduzia uma máquina digna de levantar voo, a fazer o mesmo gesto que as aves fazem de bater as asas quando vão em vôo. Limitei-me a deixar seguir o nosso taxista aviador (que se calhar era o que ele queria ser em gaiato no momento em que "fosse grande"), e dizer: "mais um louco de lisboa", como parafraseia o Rui Veloso na sua canção.
Da minha experiência de oito meses a conduzir regularmente em Lisboa existe uma imagem que é quase ubíqua em qualquer rua movimentada da capital: um carro com os quatro piscas ligados estacionado em segunda fila. É impossível o dia ou a hora em que eu não veja um tuga a fazer (ab)uso deste recurso, que não consta em nenhuma versão do código da estrada até agora publicado. É daquelas coisas que o pessoal (ab)usa, tal como não parar à entrada das rotundas, que é a infracção mais vulgar e que já ninguém acha problema. Mas hoje pessoalmente para mim foi demais, porque foi ver quatro(!) carros estacionados do mesmo lado da rua na Calçada da Ajuda em fila, todinhos à frente um dos outros ? Teria sido coincidência !? Eu às vezes pergunto se o emigrante português, lá fora, num país estrangeiros onde nós estamos em boa quantidade, como o Luxemburgo ou a Suíça, também (ab)usamos do recurso aos quatro piscas para parar. Não sei não, se calhar aí é diferente. É preciso ter cuidado para não se trazer os maus hábitos do nosso país de origem. Em Roma sê romano, lá diz o ditado. Quando estás num país estrangeiros, és como convidado em casa dos outros, e deves seguir os modos de proceder da casa onde és convidado. Mas, e bem vistas como são as coisas, quem é quer saber disso !?
Eu a ver um carro com os quatro piscas parado em França ou na Alemanha, quase de certeza, que vou perceber o que ele diz...