segunda-feira, junho 13, 2005

Adeus camarada Álvaro

Não é que seja comunista, mas acho que qualquer pessoa hoje não consegue passar indiferente à grande figura que Portugal perdeu hoje: Álvaro Cunhal faleceu hoje aos 91 anos de idade. Eu saberia que este momento haveria de chegar, não pensava que fosse para já agora. Pouco a pouco vão desaparecendo os grandes combatentes do antigo regime: agora já só resta Mário Soares. O que é certo é que Álvaro Cunhal consegue infundir respeito a quaisquer figuras de vida política portuguesa, mesmo aqueles que se encontram na posição diametralmente oposta à sua. Talvez só mesmo os mais "fascistas", e os tacanhos de espírito, e os jovens, por desconhecerem, não partilhem dessa admiração. Apesar de ser uma figura cujas posições políticas já terem passado há muito do seu momento próprio, tem também de se lhe reconhecer o seu papel de vulto na cultura portuguesa: nas obras que escreveu sob o pseudónimo de Manuel Tiago como Cinco Dias, Cinco Noites, A estrela de seis pontas e Até amanhã camaradas . Fica para a história a forma como se evadiu do Forte de Peniche e muito mais outras, como uma das grandes figuras do Estado Novo, Marcelo Caetano, lhe veio avaliar a sua tese de Licenciatura, permitindo-o ser libertado da prisão com esse intuito, que por acaso incidiu sobre um tema bastante actual - a despenalização do aborto - e na qual acabou por conseguir a classificação de 19 valores. Enfim, que mais se pode contar numa figura de 91 anos ? Eu só tenho um pouco menos de um terço da idade dele...