Numa altura em que vou ter de encontrar novas coordenadas para a minha vida pessoal, dou por mim a escutar os melhores exemplares desse estilo musical que só existe cá, e que se chama fado. Não gosto de abusar dos fados coimbrões, extremamente melancólicos, porque senão sinto a minha alma a esmorecer. Mas, por vezes, é mesmo necessário !
Por detrás de figuras de vulto como Amália ou Carlos Paredes, qual será a razão para só em Portugal existir este estilo musical !?
Muitos das nossas grandes figuras literárias, desde Camões e principalmente Pessoa, sempre se interrogaram, na procura de uma definição do ser português. É um facto que somos um povo com uma identidade cultural extremamente forte, amadurecida ao longo dos nossos quase 800 anos de história. Ao contrário dos nossos vizinhos espanhóis, que na realidade se sentem mais andaluzes, galegos ou bascos do que propriamente "espanhóis", nós tugas, andamos às vezes em batatadas e brigas de bairro Norte/Sul, ou do Continente contra as ilhas, mas que não passam disso mesmo, apenas simples demonstrações de força sem intenção verdadeira de magoar, mas acabamos por amar-nos todos uns aos outros,e se calhar foi isso que se calhar impediu o derramamento de sangue no 25 de Abril de 1974.
Mas estou a dispersar-me do assunto que me levou a querer iniciar esta publicação: o que nos leva, portugueses, a evocar momentos tristes de forma tão bela e espirituosa. Será a nossa linguagem ? Temos tanta história, uma história de 800 anos, mas será realmente mais pontuada por momentos trágico/dramáticos do que felizes ? É por isso que cinco oitavos da nossa bandeira são da cor de sangue, para evocar essas tragédias ? Já nos demos ao luxo de dividir o mundo ao meio, com os espanhóis, mas actualmente voltámos ao nosso cantinho à beira-mar plantando, mantendo apenas as ilhas da Madeira e Açores como nossas como únicos vestígios da nossa fase épica. A afirmação da portugalidade terá de ser feita através da nossa língua, que está no "top ten" das línguas mais faladas em todo o mundo!
Parecemos estranhamente fadados a que os nossos momentos de felicidade sejam de extrema curta duração, porque tivemos o pássaro na mão e deixá-mo-lo fugir, no século XVI, se calhar porque nunca fomos muitos em nº de habitantes. Mas apesar disso, estivemos em todo o lado, atingimos o Brasil, a Índia, a Indonésia, China, Japão e roçámos a Austrália. Mas éramos poucos para poder manter tanto território na nossa posse. Não quero ser profeta do "Quinto Império", como Pessoa, mas realmente, este sentimento de pessimismo (ou de autocomiseração nacional, como lhe prefiro chamar), é praticamente genético. Estamos sempre a falar mal uns dos outros e de nós próprios, e a rebaixar-nos perante as outras nações, a copiar o que invejamos nos outros povos, desde o nível de vida dos escandinavos até ao samba brasileiro, ou mais recentemente, o Halloween dos povos anglófonos. Tudo corre mal, e vai sempre no mau caminho, e os momentos de felicidade deste país são sempre muito curtos, tal como o pequeno empurrão que a entrada na CEE a partir de meados da década de 8o, pautado pelos governos do senhor que agora é inquilino do Palácio de Belém. O facto do território conquistado aos mouros desde Afonso Henriques até ao seu bisneto Afonso III na Península parecer não ter sido suficiente para nos conter a todos como pessoas, como à nossa vontade, parece nos ter predestinado para sermos um povo de constante emigração. Não temos muitos recursos naturais, como ouro, o verdadeiro de nome e o negro, que há de muito noutras paragens, mas temos muitos outros recursos, talvez a vontade de não querermos deixar-nos vergar por este nosso estranho Fado, e de mostrar ao mundo que, afinal, depois de 800 anos, ainda aqui estamos, para levar e durar.
Não costumo muito fazer anúncios a campanhas aqui, no meu blog, mas só por esta ser uma causa que eu acho especial, acho que merece uma referência muito especial, de forma que merece aqui uma chamada de atenção. Trata-se da campanha "Limpar Portugal", que vai ter lugar em todo o mundo daqui a um mês, no dia 20 de Março. O que é necessário para juntar a este movimento é simplesmente força de vontade para concretizar um desejo, que é o de ver o espaço que todos nós partilhamos, a nossa rua, os jardins da nossa terra, as praias do nosso concelho, em suma, todos os belos espaços da nossa região, de forma a que possamos sentir-mo-nos orgulhosos de que estes maravilhosos espaços se encontram bem tratados! E, como ficou anteriormente realçado, a única coisa que é necessário é força de vontade em ajudar ! Todos são bem vindos! Não se trata de tirarmos o trabalho a todos os varredores municipais, mas a vontade de demonstrarmos que, por grandes causas, somos capazes de mostrar união para estarmos à altura. Eu vou lá estar, no dia 20, com a malta da minha terra, Cabanas de Tavira, para ajudar no que for preciso. A todos aqueles que pretendam aderir, inscrevam-se na rede do vosso concelho:
http://www.limparportugal.org/
NOTA: para os habitantes de Cabanas de Tavira juntem-se
ao grupo do Facebook .
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Uma vez que não encontro outro assunto para falar, decidi voltar a escrever mais um artigo neste blog dedicado à igreja que enfeita a vista da minha casa. Esta igreja chama-se "Igreja da Memória". Normalmente era de esperar que fosse uma igreja dedicada a um santo qualquer. Mas não, esta igreja não é dedicada nenhum santo, nem sequer a nenhuma "Nossa Senhora da Memória", nem nada do género. Eu quando era miúdo, pensava que era condição "sine qua non" para que fosse erigida uma igreja num lugar qualquer, que a Nossa Senhora ou outro santo qualquer, tivesse operado um milagre qualquer naquele sítio, para isso servir de razão para se poder erguer lá depois nesse sítio uma igreja dedicada ao santo autor do milagre.
Mas não, a Igreja da Memória não foi edificada para celebrar qualquer espécie de milagre feito por qualquer santo que fosse !
A história por trás da sua edificação é uma história bem terrena, e trágica e sangrenta: a execução da família Távora durante o tempo em que as rédeas deste país estavam entregues a um senhor chamado Sebastião José de Carvalho e Mello, mais conhecido nos livros de História por "Marquês de Pombal". Não vou estar aqui a recontar a tragédia dos Távora, que pode ser fácilmente contada por qualquer site que venha nos resultados
a uma pesquisa no Google por "Távora".
A igreja teria sido, supostamente, edificada para relembrar este episódio triste da nossa história.
E o homem que lá descansa eternamente também não é nenhum santo: é o próprio marquês de Pombal !
Este homem, depois dos serviços prestados ao nosso país após o grande terramoto de 1755, foi perseguido e espoliado após a morte de D. José, mas a história acabou por lhe fazer justiça - mas mesmo assim a igreja foi considerada "maldita" pelo regime fundamentalista católico do Estado Novo, uma vez que esteve excomungada até pouco depois do 25 de Abril de 1974. Para mim próprio foi uma surpresa, saber que um edifício religioso pode ele próprio ser excomungado, não apenas uma pessoa !
De resto, e uma pessoa que não conheça a igreja pensa que está na presença da Basílica da Estrela, pois esta igreja da memória é encimada por uma cúpula, se bem que mais pequena, ao estilo neoclássico da dita basílica.
Penso que deveria haver igrejas para celebrar outros acontecimentos que pouco ou nada tenham a ver com a religião - uma igreja para os mortos da Guerra do Ultramar, porque não !? Também seria uma bela "Igreja da Memória" ! Mas já existe o monumento aos mortos do Ultramar no forte do Bom Sucesso ! Será sempre necessário ter de haver sempre um milagre, uma coisa de "outro mundo" como motivo para construir uma igreja !? Não pode mesmo ser uma história decorrida neste triste humano imperfeito e imoral, onde todos os dias os seres humanos cometem erros balbuciantes, um motivo nobre para celebrar a construção de uma igreja !? Sim, mas é verdade: que mal é que os Távoras quiseram fazer ao Marquês e a o seu rei, para merecerem serem executados em praça pública, mas pelo menos ainda tiveram direito a que lhes fosse erigida uma igreja em sua memória, coisa que mais nenhum normal condenado à morte teria direito! Não será isso uma razão válida para ter mandado construir a igreja, será que, secretamente, o Marquês ou D.José, deram conta que cometeram um terrível erro com os Távora, e ainda lhes erigiram a igreja como forma de arrependimento !? Se for, não é isso que figura nos livros de história !